Hoje saí de casa por volta das oito da manhã para uma breve ronda de thrift shopping antes de ir para o trabalho. Os meus últimos meses têm sido assim. Divido a minha vida entre estudos, um trabalho em part-time e um negócio online. Descobri todo um mundo novo através da Internet e estou a criar um micro-negócio de roupa em segunda mão. Estou consciencializada de que a Internet é o futuro e que não é preciso um investimento enorme – apenas determinação – para num curtíssimo espaço de tempo conseguir obter frutos.
Felizmente, ou infelizmente, não sei, sou uma privilegiada, na medida em que praticamente todas as semanas, desde que sou pessoa, compro uma peça de roupa. Mas esta cena de viver para a moda e ter esta necessidade constante de comprar e comprar e comprar, desculpem a expressão, é uma merda. É que se antigamente as lojas eram baratas, agora são absurdamente caras. Ou se são baratas estás oficialmente a dar dinheiro a uma companhia para levantarem um belo dum dedo do meio aos trabalhadores que fazem as roupas e são pagos ao preço de chiclete. A moda é um ciclo vicioso de falsa ética. E um poço aditivo. É que para além de ser um cancro para o planeta, um bafo de azar para as famílias que vivem da indústria têxtil, uma tormenta para as seguidoras dos estereótipos impostos pela sociedade derivadas do marketing da indústria… É também a cova para os escravos das tendências. Eu que o diga. É que habituei-me a comprar. E na primeira vez que vestia sentia-me no auge. Na segunda vez vá. Mas na terceira vez já não me dizia nada.
O gosto pelas vendas online já não vem de agora. Aos quinze comecei a vender as minhas roupas usadas no OLX. Admito que quando comecei a ideia era comprar, usar meia dúzia de vezes e vender para comprar algo novo. Mas isto é um ciclo e assim não ia a lado nenhum. Tive que reformular a minha postura. Agora se vendo fico quietinha, que assim é que deve ser.
Aos dezassete criei uma página no Instagram para vender roupa nova que comprava para revender – adorava a parte de procurar as peças mais in, sempre tive o bichinho do styling e de previsão das tendências dentro de mim. Apesar das vendas não serem muito frequentes, em certos meses cheguei mesmo a fazer dinheiro a sério com uma brincadeira que me dava gozo fazer, em qualquer sítio, a qualquer hora.
Depois de me mudar para Inglaterra tornou-se complicado gerir a página. Eventualmente acabei por procurar hipóteses em Inglaterra. Experimentei publicar as minhas peças de roupa na versão inglesa do OLX, o Gumtree. Não resultou. Acabei por publicar no Marketplace no Facebook e com o tempo fui livrando-me de tudo o que simplesmente já não queria.
Quando comecei a trabalhar na Levis conheci a Mia, uma rapariga que gere uma página no Depop – a maior plataforma de vendas em segunda mão em Inglaterra – que também está disponível no resto do mundo, mas que em Inglaterra tem um tráfego diário enorme, particularmente de um público alvo jovem, de mente aberta e com a paixão pela moda. A Mia tem um olho especial para peças vintage e dedica várias horas da sua semana a procurar roupas únicas e originais em lojas de caridade, que compra para revender e ganhar uma margem de lucro. As suas fotos são mega originais, já tem um nicho específico para o qual consegue vender as ruas roupas praticamente minutos depois de as publicar e o seu objetivo é combater as fast-fashion e tornar-se uma girl boss.
Por curiosidade, decidi publicar no Depop um casaco de lantejoulas que comprei em saldos no Outlet de Vila do Conde.. custou pouco mais que 5€ na altura. Tirei uma foto com poucos cuidados e publiquei o anúncio. Nunca mais me lembrei de que tinha a app no telemóvel. Qual não é o meu espanto quando alguns dias depois recebo uma notificação de que o casaco tinha sido vendido por 25€! Nessa tarde peguei na minha máquina fotográfica e nas soft boxes e tirei fotos a metade do meu armário.
Acabei, eventualmente, por vender todas as minhas peças de roupa que tinha aqui em Inglaterra e que já não usava e comecei a explorar lojas de caridade. Hoje compro grandes quantidades de roupa usada e revendo. Recentemente alarguei o negócio ao eBay, ao qual ainda me estou a habituar, mas devo ressalvar a ideia de que também é um sítio ótimo para revender visto que tem uma audiência enorme.
Os melhores sítios para vender online
Todos os sites para vendas online têm os seus prós e contras. Taxas, tráfego e procura são coisas importantes a ter em conta na hora de criar uma conta.
Para mim, ainda que com taxas elevadas, o Depop é a minha app preferida. Semelhante ao Instagram mas numa versão loja, torna-se muito fácil ao consumidor procurar as melhores peças. É fácil de negociar, de receber reviews, de procurar artigos e consequentemente de vender/comprar. Contudo, creio que não esteja tão desenvolvida em Portugal quanto em Inglaterra. Ainda assim, é permitido shipping internacional, por isso vale a pena tentar.
O Ebay também tem uma audiência enorme, e bastante alargada, em comparação com o Depop, onde o público alvo são os mais jovens. Oferece não só a opção de venda imediata mas também o leilão, perfeito para artigos mais caros, onde o lucro consegue ser excelente. Contudo, também tem taxas e o pagamento não é automático como no Depop – o consumidor tem de efetuar o pagamento manualmente, depois de pressionar o botão de compra. Isto leva muitas vezes a que o consumidor acabe por não pagar, mas apartir do momento em que o botão de compra é pressionado, o vendedor vai ter que pagar as taxas do artigo.
O Marketplace do Facebook é uma forma fácil e rápida para se livrar de peças mais baratas. Quando tenho lotes de roupa em stock e não estou a conseguir vender acabo por publicar bundles no Facebook. Na maioria das vezes a entrega tem que ser em mão, o que não é muito seguro e por isso, ainda que seja dinheiro fácil porque não pagamos taxas, acabo por não levar a venda até ao fim se desconfiar do perfil da pessoa que está do outro lado.
O Instagram é bom para publicitar entre conhecidos. Recentemente criei uma página dedicada só a vendas mas tenho a consciência de que o alcance é muito baixo e que se vender meia dúzia de artigos já é excelente. Contudo, pessoas com mais alcance como influencers conseguem vender obviamente qualquer coisa. Fora esta página de que falei agora, tenho também a outra conta onde vendo peças novas e como já disse alguns parágrafos acima, o lucro era muito bom mas as vendas também não era diárias. As clientes são quase sempre as mesmas, que por saberem que a página é de confiança procuram sempre voltar. Uma boa dica, e esta trago das minhas aulas de curso, é não ter vergonha de seguir pessoas. Na fase inicial essa é uma das poucas formas que temos de chegar até mais gente e quando o assunto é maximizar vendas, não brincamos em serviço.
Já experimentei o Vinted, uma app nova onde vendi uma peça, mas não gostei do procedimento. O dinheiro fica pendente até o consumidor receber o artigo, que deve ser enviado pela Hermes, com uma etiqueta impressa por nós em casa. Não tinha impressora e o local mais próximo de Drop-Off da Hermes era relativamente longe de minha casa por isso acabei por não voltar a vender. No entanto, artigos de luxo são extremamente baratos (o público alvo é mais velho e no geral são pessoas que se querem apenas libertar de coisas que já não usam mas não têm a consciência do valor atual das peças). Acabei por comprar vários pares de Levis para revender e resultou tão bem que agora dedico também parte do meu tempo a comércio de high-end brands.
Pelo que sei, o Asos Marketplace e o Etsy são boas opções para roupa vintage e peças artesanais, respetivamente. De facto, são websites extremamente conhecidos e por isso não duvido que tenham uma larga audiência. Apesar de ainda não os ter experimentado, porque acredito já ter encontrado os meios que melhor resultam comigo, fica a dica!
Dicas para vender online
As melhores dicas para efetivar uma venda online aplicam-se a todos os websites.
Fotos de boa qualidade são a peça fundamental. Uma boa luz e um fundo neutro onde o foco seja a peça são meio caminho andado para que seja vendida. Muitos vendedores publicam também fotos a vestir a peça. Na maioria das vezes eu não o faço porque preciso de rentabilizar o tempo e as fotos são mesmo uma das coisas que me tira mais tempo no processo todo. Na maioria das vezes, se há alguém interessado no artigo mas gostavam de ver como veste, acabam eventualmente por pedir uma foto com o artigo vestido.
Aliada à fotografia, a presença online faz a combinação perfeita. Estar ativo na plataforma, publicar com frequência e se possível, dar refresh nas publicações (tanto o Depop como o Facebook Marketplace permitem atualizar os anúncios para que voltem para o topo da página). Por experiência pessoal, isto dobra as hipóteses de vender o artigo em menos de 24h.
Ás vezes reputação é tudo e por isso é preciso ganhar a confiança do consumidor antes de procurar gerar receitas estrondosas. Preços mais baixos ou negociáveis são uma forma fácil de atrair mais compradores no início para construirmos feedback na nossa página – sinto que no meu Depop as vendas tornaram-se muito mais frequentes depois de vender e receber as primeiras 20 reviews!
Foi com a minha loja de Instagram The Pink Punch que percebi que os detalhes contam muito. Quando comecei a vender costumava enviar as peças numa caixinha de cartão que podia ser reutilizada. Os artigos iam envolvidos em papel crepe e enviava sempre um miminho extra. Mas a verdade é que ao começar um negócio não vale a pena comprar quantidades massivas de material não sabendo se o que estamos a fazer terá saída ou não. Comprar caixas individualmente e os portes elevados tornavam o lucro muito pouco por isso acabei por mudar para envelopes normais. Com as vendas do meu Depop e do meu eBay a aumentarem exponencialmente comecei a sentir uma necessidade urgente de reduzir o gasto de plástico e papel que estava a usar com envelopes e por isso agora, na maioria das vezes, reutilizo envelopes e outros materiais, como sacos ou folhas usadas e tenho fazer envelopes esteticamente agradáveis e muito mais amigos do ambiente. Quando não o consigo fazer, envio um cartãozinho junto da encomenda onde sugiro que a pessoa do outro lado guarde e reutilize o envelope.
Para iniciantes as opções que dei acima são ótimas. Existe também a alternativa de comprar lotes de envelopes (no eBay 100 custam cerca de 5€) visto que comprar envelopes a vulso pode tornar-se dispendioso.
Não ter medo de aproximar o comprador (e esta aprendi ao trabalhar com metas diárias de vendas na Levi’s). Se a pessoa deixou um like, não perdemos nada em enviar uma oferta, como por exemplo sugerir portes grátis. Se chegarem a um acordo, ótimo, temos negócio. Se não vos responderem, também não perderam nada por tentar. If you never try, you never know.
Porque nem tudo é fácil, estamos sujeitos a críticas más. A melhor forma de o evitar é através de comunicação. Verbalizar o estado real dos artigos e qualquer pormenor que possa eventualmente incomodar um futuro comprador. Anunciar previamente atrasos nos envios. Normalmente envio as minhas peças num período de 48h. Quando não é possível, como por exemplo agora que estive de férias duas semanas, certifico-me de que deixo uma mensagem e um miminho de compensação ao comprador. Quase sempre um par de brincos (costumo comprar lotes a preços muito baixos e por isso a despesa é quase nenhuma). Acaba por ser uma win/win situation. Cliente feliz, boa review e consequentemente, fico feliz também.
Como tudo na vida, é preciso paciência e dedicação. Dedico várias horas da minha semana a este pequeno hobby e acredito que os frutos vêm daí.
A melhor parte é que adoro mesmo todo o processo.
Amo ir procurar as peças nas lojas em segunda mão. Adoro ter a casa cheia de roupa com história e todos os dias me poder levantar e ter um catálogo vivo de estilos diferentes no meu armário e, quando me apetece, permito vestir-me com o que o meu mood pedir, como se de fatos de carnaval se tratem. Faz-me feliz gerir as plataformas e não há nada melhor que embrulhar os artigos para os enviar, tipo Natal todos os dias.
Se puder estar a fazer isto tudo e a reduzir a minha pegada ecológica em simultâneo então bolas, que orgulho de mim mesma. Este foi um guia para futuras (e futuros, porque aqui somos inclusivos) girl bosses e, honestamente, acho que estou no bom caminho.